Vender-se-iam. Verbalmente, fantástico. Nem tão impressionante na prática. A aridez das tardes me fazia perguntar aos meus cabelos empoeirados: quanto vale um gole de ar? A secura da relva amarelada se refletia nos meus olhos, forçados a abandonar o lilás das noitinhas arrastadas para espelhar o crepúsculo magenta quase tão obsceno quanto as histórias que me enchiam os ouvidos.
Vender-se-iam. Esse é o lema daqueles que mantêm o lugar, quase dotados da mesma bazófia de um bolchevique inconformado, insandecido pelo grosso do formol. A cidade, assim como a terra, morrera a passos largos havia anos e muitos ainda se amontoavam por um fragmento do grande cadáver. Obsceno. A resignação das noites secas e solitárias acortinava-se com a autopiedade do trabalho e nutria-se da arrogância infundada de um povo iludido.
Os crocodilos não se davam sequer ao trabalho de notar que já não havia mais espaço para bandeira alguma naquela montanha. O cume estava repleto. Decerto, não haveria também lar para desbandeirados e sua estranha necessidade de beber água. Era o faroeste de gala. Nos bolsos internos dos ternos dantescos, repousavam as pistolas, engatilhadas. Era o faroeste de gala, era terra de todos.
E de tanto ser terra de todos, terminou por ser terra de ninguém — cão com muito dono morre de fome — terra de ninguém. Uma terra tão imersa em leis que acabou por se tornar um antro de negligência. E tão logo alcançava-se a compreensão, as narinas estavam cheias de fumaça, poeira e medo.
Ao fim do dia, com a fuga do calor, sentia-se todo aquele laterito compactar-se no interior da mente, enrijecendo as ideias e paixões, estupidificando-as. Se pudesse romper o peito com um urro, veria uma alma alaranjada e opaca. Haveria de dar nela um banho salgado. Bem longe dali.
Era, sim, magnífica. A prova cabal de que a irresponsabilidade pode tomar contornos em vidro, concreto, aço e asfalto. Uma peça ingênua que, no presente, remetia a pouco da empáfia da igualdade que se presumia na pompa dos discursos. Fora tempo perdido. Fora um grito de socorro. Fora o sorriso de um homem bom.
E os mequetrefes, balangandãs e faraonices. O chão duro e impassível fora todo mascarado com linhas e linhas e polígonos e ângulos e arcos urbanoides modernos. Uma coisa bonita de se ver e triste de se sentir, inatas, uma vez que o lobo espreitava com a bocarra semicerrada em cada esquina. Esquina?
Fora tempo perdido. Fora porta fechada. Bati a sola encardida no rodapé, discretamente. Não pude dizer nada diferente: embriagada pela esperança tola da igualdade, acabou por cometer o pior dos crimes: o de fazer acreditar. Fin.
Vender-se-iam. Esse é o lema daqueles que mantêm o lugar, quase dotados da mesma bazófia de um bolchevique inconformado, insandecido pelo grosso do formol. A cidade, assim como a terra, morrera a passos largos havia anos e muitos ainda se amontoavam por um fragmento do grande cadáver. Obsceno. A resignação das noites secas e solitárias acortinava-se com a autopiedade do trabalho e nutria-se da arrogância infundada de um povo iludido.
Os crocodilos não se davam sequer ao trabalho de notar que já não havia mais espaço para bandeira alguma naquela montanha. O cume estava repleto. Decerto, não haveria também lar para desbandeirados e sua estranha necessidade de beber água. Era o faroeste de gala. Nos bolsos internos dos ternos dantescos, repousavam as pistolas, engatilhadas. Era o faroeste de gala, era terra de todos.
E de tanto ser terra de todos, terminou por ser terra de ninguém — cão com muito dono morre de fome — terra de ninguém. Uma terra tão imersa em leis que acabou por se tornar um antro de negligência. E tão logo alcançava-se a compreensão, as narinas estavam cheias de fumaça, poeira e medo.
Ao fim do dia, com a fuga do calor, sentia-se todo aquele laterito compactar-se no interior da mente, enrijecendo as ideias e paixões, estupidificando-as. Se pudesse romper o peito com um urro, veria uma alma alaranjada e opaca. Haveria de dar nela um banho salgado. Bem longe dali.
Era, sim, magnífica. A prova cabal de que a irresponsabilidade pode tomar contornos em vidro, concreto, aço e asfalto. Uma peça ingênua que, no presente, remetia a pouco da empáfia da igualdade que se presumia na pompa dos discursos. Fora tempo perdido. Fora um grito de socorro. Fora o sorriso de um homem bom.
E os mequetrefes, balangandãs e faraonices. O chão duro e impassível fora todo mascarado com linhas e linhas e polígonos e ângulos e arcos urbanoides modernos. Uma coisa bonita de se ver e triste de se sentir, inatas, uma vez que o lobo espreitava com a bocarra semicerrada em cada esquina. Esquina?
Fora tempo perdido. Fora porta fechada. Bati a sola encardida no rodapé, discretamente. Não pude dizer nada diferente: embriagada pela esperança tola da igualdade, acabou por cometer o pior dos crimes: o de fazer acreditar. Fin.
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