21.12.09

17.12.09

Calçada

É de impressionar como foge a cor do mundo quando o tempo acaba e ela se vai. Tudo se torna opaco, até mesmo o febril senso de defesa que outrora tomava conta do corpo. É como se lhe tomassem de súbito um dos sentidos; como se nem aquele perfume existisse mais ou como se cor alguma se refletisse nos olhos. É o roubo do tempo e do espaço. É a conspiração do chão pela queda. É o começo que brinca de ser fim. É o vazio que fica naqueles que não são oito — são oitenta. Aqueles que fervem demais, que sofrem demais, que odeiam demais, que gostam demais, que amam demais. E esquecem os demais para dar um centro ao universo caótico. É a hora de pagar o mergulho nas nuvens com o engulho ácido do ar que entra nos pulmões, a vida real que quer de novo estar no comando. E que esteja. A vida real é a gente quem faz quando quer de verdade. Feito melões numa calça.