20.12.08

Inveja

Os pássaros não morrem
Simplesmente voam
Sem sequer imaginar
Que no breve bater de asas...

Os pássaros não sofrem
Simplesmente cantam
Com a gélida certeza
Daqueles que provocam e...

Me fazem invejar.

E se meu mundo cabe
No espelho d'água, eu à eira do mar
Que dirá o da inocência vaga dos
Que me fazem invejar?

Os pássaros não morrem
Os pássaros não sofrem
Sem sequer imaginar
Que me fazem invejar.

30.10.08

Injeção na Testa

— O que é isso?
— O negócio, ué. Aquilo.
— Ah, sim, vejo que sim. Custa quanto?
— É maldade. É de graça. Então aí vai.
— Não, calma. Espera. Espera um pouco.
— Tá bom.
— Vai doer, isso?
— Provavelmente.
— Doeu da última vez?
— Sim, doeu.
— Muito?
— É. Mas doeria muito mais se fosse do outro jeito.
— Sim, é verdade.
— É.
— O que tem aí dentro dessa seringa?
— Ah, o de sempre. Mentira.
— Mentira?
— É.
— Ah, tá.
— E um pouquinho de falsidade.
— É...
— E covardia, as well.
— Ah, de fato, é o de sempre.
— É.
— Enfim...
— Sim.
— Pode furar.
— Tá bom.
— Caramba, doeu.
— Ninguém disse que ia ser fácil. Pensei que já fosse bem óbvio.
— Não sei se as mesmas regras se aplicam a nós dois... mas, enfim. Era só desconfiança. Agora é certeza.
— É.
— Isso aconteceu mesmo ou eu sonhei?
— Sim, aconteceu.
— Não é mentira?
— Antes fosse.

25.10.08

Relevância:

Voz breve
Vida aguda
Quisera eu ter outra bermuda:
Para provar ao mundo inteiro
Que eu não sou só mais um onzeneiro
E tenho dito

7.10.08

Pu-239



O azul que hoje ouvi

Cego algum ouviria
Mergulhado em luz do Sol
Do Fá, do Lá, do Mi
E do cliché

Nosso prazer
Em contrastar
Em conquistar
Em discordar
Em contradizer

Deixe que o circo pegue fogo
Que a vaca vá ao brejo
Que a porra dê merda
Tanto fará:

Tudo que é belo será chumbo
Tudo que é falso cairá
O que te parece tão óbvio, tão próximo
Em breve um reles resto será

Viva la revolución!

26.9.08

Veneno

Seja voando sobre uma raquete de tênis
Numa torrente de ar
Ou ao lado de toda a prata
O mesmo frio ardente me sobe

Um veneno incrustado na sola dos meus pés
Que de tanto serem pés
Deixaram de funcionar
E passaram a reclamar

É esse veneno que me traz toda a inspiração
Que me destrói por dentro
Só pra me ver renascer em silêncio

E mergulho pra dentro da água
Pra fora do mundo
Pro meio do Universo

21.9.08

Derrotismo e um pouco de vinho falso

Eu perdi
Perdi antes de tentar
Perdi antes de provar
Perdi
Quando a porta do quarto abrir
Quero estar morto no chão.

18.9.08

11.9.08

Pourquoi suis-je moi?

E no fundo
Bem lá no fundo
Quando aquela música toca
E te arrasta pr'aquela mesma manhã

Ainda que não fosse a manhã ideal
E nem sequer fosse uma tarde
Um tarde perfeita
Ou simplesmente uma tarde

Em que a luz matutina
Revoltosa, recusava-se a mostrar o rosto
E deixar que outros rostos se mostrassem

E que tudo isso viesse numa torrente de esquecimento
De nostalgia
De arrependimento

8.9.08

Ânimo.

Me abate um cansaço
Da inconstância das coisas, da
Inconsistência
É como ir e voltar sem
Poder optar por
Parar
E respirar, na
Maioria das vezes

Me abate um cansaço
Da velha prática, do
Automatismo
De gente feita em
Fábricas
De gentes
Com seus sorrisos de
Plástico
E risadas
Piratas
Escolhidas

Me abate um cansaço
De tudo que vejo, de
Tudo que sinto
E até do
Invisível e do
Intangível e,
Ainda mais,
Do ininteligível

Abateu-me o cansaço
Presa fácil