25.3.11

Sutil

Saberei que não sou mais humano
Quando deixar de errar
Então me deixa errar, meu bem
Tem paciência

Porque errar é humano
E ser humano
É ser amar

Transparência

E noite após noite
Um sussuro diferente
Sempre sem acordar

Vai entrando calado
Feito vento, transparente
Sem força pra despertar

É bom que saiba então
Que a mesma tez indolente
Encerra o impulso de esperar

Encerra sonhos agitados
Onde não há alma que se invente
Mas volta e meia, recorrente
Você parece figurar

17.3.11

São João

Eu sou a cruz
Eu sou a espada
A dor e a fome
Sou a morada

Eu sou morada
Eu sou o teto
Eu sou o chão
Sou São João

Os minutos passam e as paredes a cela encerram. No fundo, um balbuciar santo, protetor, segurança da jangada da vida. Um leve gotejar completa o ambiente. Ou será seu corpo uma caverna à parte?

Eu sou orgulho
Sou solidão
Sou fortaleza
Sou São João

Eu sou fraqueza
Eu sou verdade
Sou São João
Sou santidade

Ainda que lavado pelo véu d'água, se sente encarcerado. E assim, toda a grandeza se esvai: de tão pequeno, começa a crer que não havia a real fuga do cárcere — o mundo inteiro é prisão.

Eu sou a chave
Eu sou grilhão
Sou vento-sul
Sou São João

Eu sou a morte
Eu sou a vida
Eu sou ferida
Eu sou saída

Eu sou escravo
Eu sou senhor


Eu sou paixão.
Sou São João.