21.12.09

17.12.09

Calçada

É de impressionar como foge a cor do mundo quando o tempo acaba e ela se vai. Tudo se torna opaco, até mesmo o febril senso de defesa que outrora tomava conta do corpo. É como se lhe tomassem de súbito um dos sentidos; como se nem aquele perfume existisse mais ou como se cor alguma se refletisse nos olhos. É o roubo do tempo e do espaço. É a conspiração do chão pela queda. É o começo que brinca de ser fim. É o vazio que fica naqueles que não são oito — são oitenta. Aqueles que fervem demais, que sofrem demais, que odeiam demais, que gostam demais, que amam demais. E esquecem os demais para dar um centro ao universo caótico. É a hora de pagar o mergulho nas nuvens com o engulho ácido do ar que entra nos pulmões, a vida real que quer de novo estar no comando. E que esteja. A vida real é a gente quem faz quando quer de verdade. Feito melões numa calça.

26.10.09

Telecom Italia Mobile

Dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a dor é pra quem sente a

Eu Sou

Falho. Isso já não é novidade faz dezessete anos, na mais generosa das minhas possibilidades. No entanto, não procuro redenção e nem compensação já que o mundo voltou para seu eixo excêntrico de sempre.
A verdade é que quis registrar o filho da puta que fui e que sou. Falho. E covarde. E fico namorando esses escorregões, nessa espécie de orgulho esquisito, na tentativa de convencer alguém que isso tudo viveu de que existe justificativa.
Bem também omito, invento, engano; a ninguém além de mim. Deixo crescer esse amor pelo falso, minha droga pessoal, invisível. Risco e risco e risco e falo e falo e falo e rio. E falo mais um pouco.
Pois então.
Perdão, meu Bem, ainda não vejo muito desse Sol. É o que se espera. Mas passa. Tem de passar.

3.10.09

Ida

E o rapaz, de olhar pesado, correu os olhos pela sala uma última vez, como se procurasse um derradeiro porto seguro para ancorar. Aparentemente, não viu nada parecido. Deu de cara apenas com uma série de decepções e fracassos, ao menos sob a visão daqueles olhos opacos. Nada que pudesse dobrar e guardar no bolso ou incorporar a suas caixas.
A iluminação bruxuleante do ambiente já não era resiliente o bastante para que pudesse ver aquele outro par, que o fazia por vezes rolar de hemisfério a hemisfério do colchão durante as noites mais redundantes. Era um moleque, nada mais, um esboço do que viria a ser alguém de palavra firme e essência suave, mas que ainda assim nunca viria a entender porque as coisas lhe doíam tanto e muito menos a razão de as nuvens serem tão brancas quando mais precisava de chuva.
O rosto marcado, precocemente dono de rugas, esquadrinhou ainda a sala à procura das heranças que pensara deixar, das portas que abrira sem ter intenção de adentrar. Não as encontrou. Se fosse dono de um qualquer de sensatez, teria tido o dom de notar que sua mente perturbada já não compreendia a fronteira da fantasia. Por diversas vezes abrira mão de chances reais por distantes possibilidades, na esquisita esperança de que talvez seu mundo não fosse exatamente o que via. A mania de ver ondas e não procurar entender a maré, mas sim imaginar uma grande roda mágica que as produzisse. Era a fé embaraçosa de um ateu.
Vacilantes, as mãos compreenderam que era hora de ir e logo convenceram as pernas a acompanharem-nas. Servindo-se de um último gole de ar, o rapaz deu meia-volta, vestiu o capuz do casaco e saiu pela porta sem tranca. Deixou para trás mais um pouco de razão.

7.7.09

Carta Aberta aos

E é a essa altura que eu saio do sério, quando sinto que meu coração já não mais bombeia sangue, bombeia insanidade. Para qualquer lado que olhe, vejo o mesmo: uma merda sem tamanho.
Minha pele cai como nunca, meus olhos ardem mais que a vontade de entrar em combustão espontânea e completar a sacanagem. Cada extremo tremula, protestando contra a perda de controle da cabeça débil. Por debaixo da pele estudantil, me pareço com qualquer coisa, com exceção de um ser humano.
Esse monte de bonecos de cera, tementes a deus, medrosos, rindo seus risos receosos, com a costumeira "diversão jovial". Filhos da puta, bando de porcos sexuais — como todos nós — taxando-se de loucos sem nem ter ideia de que mandam cada minuto de suas vidas para a Puta-Que-Pariu. Como faço eu.
Eu viera e fizera o que tinha de ser feito, com sucesso, até certo ponto. Mas chega. Chega de ver dias passarem em quinze minutos e assistir à vida correr de mim com medo de que eu a gaste. Chega de respirar esse ar que me dá engulhos, pisar esse chão que conspira para me derrubar e dormir noites venenosas de remorso.
Chega, fecho a minha conta.
E você, sua piranha, se continuar tentando ler o que eu escrevo, vou dar uma planetada na minha testa. Vire esses olhos para lá e afunde-se na aula.

24.6.09

A Colina

Ah, eu me quebrava por aquele lugar. Quebrava mesmo.
Lá, as ruas irregulares não nos permitiam acelerar demais, mas inspiravam ideias dignas das maiores highways. Às vezes, tinha cheio de flor. De verdade, sem falsa poesia. Às vezes, tinha cheiro de desilusão.
Por lá, canto algum existia sem razão. Para onde quer que se olhasse, viam-se retratos de um pretérito mais-que-perfeito recheados de remorso. No fim, as ruas todas levavam ao mesmo largo; fosse por bem, fosse por mal.
E tinha o vento. Subia a praia, uivante e veloz, e vinha ditar os ânimos lá em cima, onde vivíamos. Eu não era de reclamar: a mim agradavam bastante as músicas que ele trazia do alto-mar. E quando não vinha, reinava o silêncio, absoluto. Tão pleno que o mero pensar de qualquer revolucionário era prontamente ouvido por todos (e não tardava empautar-se nas fofocas eclesiásticas da semana).
Os pés descalços, por toda parte, perseguiam bolas e convenciam seus donos de que eram craques. E talvez os fossem, ali, naquele recanto. O nosso recanto. Os passarinhos, ao menos nos últimos tempos, amontoavam-se nos fios de energia, sempre na mesma esquina. Aquela mesma curva onde, anos antes, eu começava a me tornar humano. Talvez, inconscientemente, eu os tivesse delegado a guarda daquele santuário particular.
Vinha o frio. Como certa vez sugeriu uma amiga, já nos tempos dos azuis, o clima ameno fazia de todos melhor apanhados. Geralmente, a chuva se deixava arrastar, para pesar de nossos tênis, que lamentavam terem de se enlamear no retorno à casa. Eu não me importava tanto e até apreciava a umidade que tomava o ar: naqueles tempos, chuva ainda não me era sinônimo de bonança.
O Sol, durante nossos quatro verões, por vezes nos castigava as costas, obstinado em tomar-nos a brancura da pele. (Tudo bem. Sem mais generalizar.) As nuvens, provavelmente visando apoiar a empreitada do astro-rei, se omitiam na maioria dos dias, ao passo que davam às noites céus cheios de estrelas. Não havia muitas várzeas por onde eu andava — logo, nem tantas flores — e nossas vidas, essas sim, tinham mais amores. Isso tudo, lá na minha terra.
Terra essa que já não é tão minha. A deixei, ainda que volta-e-meia mostre minha cara por lá. E tudo continua, ao menos visualmente, do jeito que deixei. Com suas torturas disfarçadas por entre as horas e seus prazeres invisíveis, aquele canto me ensinou a emaranhar minha alma e simplificar meu tom.
E ainda querem que eu concorde sobre os tais sete dias. Como quem inspira ar puro, prefiro meus sete anos.

21.5.09

Fugacidades (II)

Falava demais, gesticulava demais. Deixava-se absorver pela própria paixão. Engolido pelo calor de seu brilhantismo, parecia não notar que ninguém — senão ele mesmo — parecia fazer ideia do dialeto que discursava.
A expressividade de que se abstinham os estreitos olhos indígenas se fazia externa pelos giros e marabalismos manuais. Alguns diriam que estes lhe garantiam um jeito afetado e indefinido. Eu digo que lhe garantem um jenesequoi de gente culta e geniosa: os bons e velhos humânicos.
Apoiava-se no quadro, encaretava-se para as paredes, condenava nossas mentes à malhação cultural. Perdia-se em exemplos excêntricos e muito pouco aproveitados pelos companheiros-de-meias-altas. É, esses mesmo, os de dentes lixados.
Juridiquês, economês, surfistês, citou. E foi. Foi falando o português. E eu, feito de gringo, fui tentando entender.

18.5.09

Fugacidades (I)

Já iam-se quase sete quando ela sentou-se. Hesitante, puxou a carteira de lado e acomodou-se elegantemente. Nem de longe era a loira mais bonita que já vira. No entanto, emanava toda aquela aura ostensiva ariana que impressiona e dá impressão de grandeza.
Indiferente ao resto do cosmos, inclusive ao meu olhar espião, tomou a bolsa e retirou um livro de capa amarela. Abriu-o numa página premeditada e sacou o marcador-de-páginas com todo o desprezo de que dispunha. Atirou-o de lado. Pobre-diabo.
E foi com surpresa que a observei prender-se à leitura assim que seus olhos claros encontraram a primeira palavra. Em silêncio absoluto, pareceu abdicar de respirar por alguns momentos tamanha era sua concentração. Nem a euforia esdrúxula dos outros ocupantes do ambiente parecia desviá-la de seu foco. Hermética.
Preguiçosa, cerrou o punho e, sobre ele, apoiou a bochecha direita. O aspecto infantil a não privou da aparência contemplativa; no fim, não seria ela exatamente como eu? Eu não poderia ter certeza do que se passava debaixo dos fios dourados. Talvez as páginas somente a guiassem para suas preocupações e amenidades do tipo, as quais ela não encontraria em livro algum.
A verdade é que nada disso me dizia respeito. E nem ao bacharel, que caminhou até o tablado e, ignorando os protestos silenciosos da plateia, fez menção de dar início às formalidades. A loira, conformadamente resignada, fechou o livro. Eu fechei os olhos e abri o caderno.

13.5.09

Filme Mudo

Às vezes, descendo escadas, me sinto assim, em preto e branco. Como um daqueles filmes mudos, inexpressivos. Tudo o que me restou foi o músico apressado que preenche com sons o vão deixado pelas palavras. Palavras essas que se abrigaram sabe-se-lá-onde, deixando ecos para trás feito pegadas.
Não que eu ainda faça questão de me doer nessas agulhas que espetamos juntos; aprendi que o Além-mar, ainda que oniricamente, me guarda doces e salgados inesperados. Aprendi a ser criança direito, sem ter de desfiar alças inocentes, assim, sob olhares piedosos que recusei.
Meu espelho, no mesmo quarto chuvoso, hoje reflete um maior mais completo, por mais irônico que possa soar. Um olhar mais ensolarado, sorrisos mais ensaiados, distrações melhor planejadas. Um verdadeiro vice-campeão orgulhoso de sua prataria bem polida.
Fiz de mim um filme mudo, de fato. Um passo errado numa vida inconstante. Com muitas pedras a declarar e poucos a suportarem-nas, agora mexo em cordas. Talvez até ainda invente uma moda contextualizada qualquer dia desses. Só pra rir um pouco. E assumir que sou mesmo vintage.







25.4.09

Contemporaneidade.

"Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde
Vem não sei como, e dói não sei por quê."


Escrito por Luís Vaz de Camões. Pois é. Tempos modernos são o caralho.

22.4.09

Alma Encravada

Acordei cedo pra ver o circo pegar fogo
Pra me morrer mais um pouco
Esquecer o que é sentir demais, falar demais
Fingir pra tudo que estou rouco

Deitei-me tarde pra me enganar
De pouco em pouco, tudo vira chumbo
Teu riso vivo, meu pouco brio
Fecho meu peito, escondo o bumbo

"Me dá sua mão", deixa medir
Meus dedos vagos nos teus; ruir
Esconde o medo, prolonga a tarde
Já era, meu bem, sem mais alarde

No entanto, por fim me alegro
Se minhas costas rejeitam novos pianos
A caneta é meu alívio, abrigo, escape
Sem pretender, sou mais um entre levianos

19.4.09

Heresia

Eu não quero.
E nem vou.
Não vou aceitar que não sou eu quem barbariza com a minha vida.
Eu quero me ferrar sozinho.
Quero tropeçar nas minhas próprias pedras,
Quero sofrer mais um pouco, apanhar,
Quero que_______brar minha própria cara,
Quero que as minhas portas se fechem sem perceber que não entrei.
Quero me enterrar nos jardins que eu quiser,
quero me dobrar nas perdições que eu vir.
Fica daí, fingindo que existe.
Daqui, de baixo, eu finjo que respeito.
E passo meu tempo errando sozinho.

13.4.09

Muur

Sabe,
ando meio assim.
Ser contente é inerente àqueles de sorte plena e peito raso?
Tornar real é privilégio daqueles que pisam forte e pouco veem?
Desânimo é reflexo de alma triste ou castigo ao ego fraco?
O choro só é choro quando se faz chover ou quando fura por dentro?
Sinto pesar ou somente a inércia que trava em meio aos ventos?
Se questionar: é arte pura ou covardia burra?
Bem,
não sei.
Por isso ando meio assim.

8.2.09

O Campeão


Olhei para o céu. Senti-me completo. Senti-me feliz. Ergui meus braços e gritei dentro de mim. Eu era, pela primeira vez, um campeão. Eu estava vivo. Eu tinha ganhado. Se tivesse mesmo morrido naquele dia, não teria olhado para o céu. E não seria o campeão.

Mais Uma Justificativa

Tanta vontade de escrever
Que as palavras me fogem às mãos
Tropeçam-me aos olhos
Se escondem nos vãos

E que de tão vãos
Recuso-me a fechá-los
Fechá-los com um amor
Como recomendou o tal doutor

Doutor em assuntos experientes
Torturantes, reticentes
Faz-me um chá pras rugas
Me relembra as tantas fugas

E se são fugas, explico,
Já que tanto me julgas
Foi por medo, foi por ter
Essa vontade de escrever