3.7.10

Débito

A verdade mesmo é que ando pobre. Peguei-me endividado e imerso em juros e mais juros. Capitalismo literário. Os dias, as noites e as páginas exigem pagamentos dantescos. Tempos difíceis, crise.
A verdade mesmo é que não tenho um puto no bolso. E esse negócio de poesia custa caro, muito caro. Coisa de gente rica, com suas camisas listradas, amores-perfeitos, perfeitos amores e gatos. Gatos. E eu querendo arranjar cachorros. Devedor irrecuperável. Inadimplente incorruptível. Safado.
Beleza. Dinheiro, dinheiro: vicissitude da natureza humana. Concordo, em termos. Dá ainda para fingir. Vestir o capuz e brincar de artista. Já fiz isso, confesso. Mas acho que o meu furou. Um desastre ambiental colossal, um enorme vazamento de vanidades. E vaidades, eventualmente. Piscadela.
Não que eu me queixe, nossa, meu teto já foi bem ornado em outros tempos. Possuísse ele goteiras ou abóbadas fantásticas, sempre foi dono de uma engenharia original. Meia-boca, mas original. Não que tenha feito a diferença.
A diferença é que tem feito.
Vou ver se junto minha caixinha de moedas. Os trocos que a vida me deu. Sempre recuse os chicletes. Beijo, nêga, só pra constar.