17.3.11

São João

Eu sou a cruz
Eu sou a espada
A dor e a fome
Sou a morada

Eu sou morada
Eu sou o teto
Eu sou o chão
Sou São João

Os minutos passam e as paredes a cela encerram. No fundo, um balbuciar santo, protetor, segurança da jangada da vida. Um leve gotejar completa o ambiente. Ou será seu corpo uma caverna à parte?

Eu sou orgulho
Sou solidão
Sou fortaleza
Sou São João

Eu sou fraqueza
Eu sou verdade
Sou São João
Sou santidade

Ainda que lavado pelo véu d'água, se sente encarcerado. E assim, toda a grandeza se esvai: de tão pequeno, começa a crer que não havia a real fuga do cárcere — o mundo inteiro é prisão.

Eu sou a chave
Eu sou grilhão
Sou vento-sul
Sou São João

Eu sou a morte
Eu sou a vida
Eu sou ferida
Eu sou saída

Eu sou escravo
Eu sou senhor


Eu sou paixão.
Sou São João.

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